quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LIVRE SIMETRIA


Técnica. A opção atual para ser intenso e fugir da dor. Me acostumando com esta idéia já que não posso fugir do que surgiu naturalmente. Intenções respeitadas. Pesquisas constantes sobre profissionais de diversos corpos. Copiei mímicos, ensaiei balé, renovei minhas joelheiras, criatividades de universo clown, truques de mãos para enganar platéias em espetáculos de mágica.
Todos os dias, no mínimo uma pomba bate na janela do meu atelier. Sempre acreditei serem bichos de pouco raciocínio, mas não esperava que meu espaço de criação fosse um magnético para os tais ratos alados. Vôo torto, descoordenado, mal intencionado. Péssimas performers.
Pensei em correções e, a princípio, estudar movimentos de bater de asas para começar uma possível pesquisa. Dominado o movimento, agora era o momento de corrigir os atos das pombas desorientadas. Ser simétrico, orientado e focado. Já estava completa uma primeira parte do que me desafiei: mais preciso que pombas. Porém, tão banal em meus resultados que logo percebi que qualquer um poderia fazer esta nova ação. Nada peculiar. Nada muito próprio. Nada muito autoral.
Novo desafio: movimentos complexos de se superar. A pesquisa foi pro hip-hop e para o corpo indiano. Bati minhas asas para o público. Não creio que fiz dança, mas me sinto como uma bailarina oposta. Meus braços ficaram estragados por dois dias. Hoje já consigo escrever.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS

Há alguns anos atrás propus uma instalação na qual uma sala de aula era repleta de bichos de pelúcia no lugar dos alunos. Esteticamente encantado, mas até hoje insatisfeito.
Ando mergulhado em pensar arte, fazer arte, compulsões. Atualmente em residência artística e com a dádiva de possuir verba para produção, sinto que joguei meu corpo em um saco e que funciono como uma máquina. Fotos, vídeos, desenhos, textos e performances diárias me dominam. Compulsões.
Em meu atelier convivo com o Abramo, meu grande urso de pelúcia e parceiro de performances. Nos olhos de plástico e, porém, repletos de emoção, sempre percebo nele uma vontade de performar novamente. Nossos espelhos... tal dono, tal bicho.
Nestes últimos dias recebi uma visita deliciosa da curadora Ana Paula Cohen para observar e estipular possíveis críticas ao meu trabalho. Senti uma grande objetividade sensível. Mudanças ocorreram em minha produção e poucos são os que notam. Nos primeiros minutos desta visita, Ana notou. Não me machuco mais em performances apesar de todos acreditarem no contrário. Feliz pelo conceito alcançado. Pensando em questões de voodoo: aflijo em mim e você sente.
Repensei a existência e ansiedade do Abramo. Aquele sim exerce o perfeito efeito voodoo: ele nunca se machuca (creio). Nos caminhos de meu percurso criativo senti nisto a resposta para, mais uma vez, performar com meu parceiro. Texto os movimentos do Abramo e os copio, buscando técnicas para sair ileso como ele.
Consegui. Conseguimos. Nos retiramos do salão e fomos descansar. Desta vez foi ele quem me abraçou pela noite.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PERFORMANCE DIÁRIA

Sempre produzo tendo a situação financeira contemporânea como fator inicial. Uma pena. Um ganho. A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO de propulsar a pensar, pesquisar, testar, construir... demais. A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO  de ter que transformar, ignorar, compatctar os devaneios fantásticos e não formais que gero.
Cadernos e mais cadernos de idéias e projetos. Hoje revisitei todos e, apesar ter considerado alguns registros bons e possíveis de serem elaborados havia, neste ganho, uma decepção despercebida até então: A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO de possuir projetos de fácil realização e, logo, novos trabalhos por vir. A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO de serem projetos de fácil realização e, portanto, fracos, mal elaborados e pouco imaginativos.
Resolvi me propor uma performance – já que estou de férias e preciso de lição de casa – que deve seguir a seguinte apresentação:
Todos os dias o performer deverá criar uma idéia – projeto de uma performance. A princípio, realizar esta performance no período de um ano. 
Somente o fato de eu ter me lançado algo de tamanha liberdade já me trouxe lúz. Borbulhei um tanto que automático.  
Idéia 1: PERFORMANCE DIÁRIA - Performance diária é um projeto atual no qual pretendo, no período de um ano, conceber uma idéia de performance por dia. Esta coleta, posteriormente, tomará outros cursos. 08/12/10.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

PONTO DE FUGA.

Perfil temporariamente pictórico.  Andava gostando de ver pinturas. Não necessariamente de pensar sobre as imagens que elas me apresentavam, mas sim, de ver pintura em exposição. Ainda não entendendo bem o motivo.
Agora já entendo e, inclusive, carrego uma nova descoberta na maleta: só gostava de ver as grandes.
Semana passada acompanhei a desmontagem de uma exposição. Lindo ver a potencia de um espaço ser esvaziado até ser somente espaço. A bienal já tinha me dado esta lição. A quantidade de materiais, de todo tipo, empihados juntos com seus respectivos pares –objetos fazendo panelinhas – era encantadora. Madeira, metal, ferro, aço, mármore, vidro, bla bla bla e TAPETES ISOLANTES DE SOM perfeitamente conservados, retangulares e enormes. Pedi para levar, me deram, levei dois.
Penduro na parede e observo. Não produzo nada novo mas entendo que o formato me hipnotiza. Gostando de pinturas... IMPULSOS NATURAIS DE PERFORMER: me joguei na parede, agora forrada, de todas as formas. Brinquei de me balancar em frente à parede forrada, como um autista clichê, batendo de leve minha cabeça. Fazia isso enquanto pensava.
Noto que a estrutura isolante estava quase que exatamente ao meio da parede.  Me afastei e cortei um círculo ao meio da estrutura para ver este ponto central. Enquanto desenho, para mim, tudo naquela situação se encaixou. Se não fico imóvel naquele ponto não o sentiria. Logo, sequer o perceberia. Ao menos não tão cedo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

PARA O CONTEÚDO DE COISAS IMÓVEIS.

Recebi um desafio: ser um livro em uma performance. Ser livro. Fiquei com essa proposta me indagando mais interrogatoriamente do que me afirmando respostas. Uma delícia isto, penso automaticamente mas, naquele momento, com prazo de entrega e montagem, nem tanto. Iniciei pelas obviedades; letras, frases, páginas, marcador, capítulos, título, parágrafos. Nada parecia me comunicar bem com corpo, enquanto matéria final da coisa a ser proposta. Resolvi esquecer o LIVRO como assunto e pensar em OBJETO.
Como ser objeto? O que é objeto?  Para mim, algo inanimado, com alguma função ou não mas, sem dúvida, sem possuir organicidade, vida, pulso. Impossível ser isso. Posso tentar plagiar as esculturas vivas da praça da sé e, ainda assim, respiro, pisco, existo como metáfora e imitação. Não sou a coisa. Sou gente. O que seria, então, um ser-humano-objeto? Um boneco talvez. Ou um corpo morto. Este virou carcaça e coisa que é só matéria (me lembro de assuntos como corpos depositados ,como lixo, no nazismo). Pensava em coma, naquela imobilização hospitalar e, mesmo assim, humano, pois o cérebro parou, mas o coração permaneceu.
Por essas linhas tortas, poderia eu tentar ficar imóvel, sem piscar ou me mexer. Inevitável: ainda tenho coração e cérebro e, além disso, os dois ultra ativos. Por si só não seria. Precisava de alguma comparação. Já que não serei, tentarei ser o mais próximo daquilo. Assim foi.
Reflexões finais: animais (como, também, nós) transformados em objetos. Existem? Pensei nos empalhados e nos de pelúcia. O primeiro me trouxe alguma agressividade que ali não pretendia. Pelúcia então e, assim, pensando sobre qual animal seria iconográfico para isso: urso. Eis meu comparativo.
Entre grades de proteção e, ao mesmo tempo, limitações, vitrines e separações animalescas, ali ficamos; eu e Abramo (o urso) por certas horas. Doeram-me demais tantas permanências físicas e cerebrais. Não ganharia do Abramo no quesito permanência estática... Mas creio que ganhei por desistir. Ele ficou lá, lá ainda está e não parece ligar pra isso. E eu pensando nele. Não sei bem se ganhei.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

UM INTERVALO ENTRE NOSSOS INSTANTES.

Mais algumas possibilidades de convivência que me decepcionaram. Querendo evoluções, querendo não me punir mas, ainda, não solto da sensação-necessidade de alguma culpa, seja criada por mim ou por quem fosse.
Um acúmulo de desistências de meus parceiros, por mim, me trouxe luz a conclusões que me disseram que a dor que sinto sempre foi, em parte, causada pela atitude e escolha de outros mas, também, triplicada por dramas que crio para mim mesmo.
Resolvendo performar e permitir, desta vez, que meu sofrimento fosse construído por ações do público, não por mim. Uma dúvida restante: como?
Pensava sobre minhas primeiras relações, as menos treinadas as mais ingênuas, mais não praticadas, menos intelectualizadas, as mais fundamentalmente corporais e confusas no que diz respeito à realmente gostar de alguém ou de, na realidade, gostar de simplesmente ter uma companhia – seja essa qual fosse.
Ironicamente foram as que mais duraram.
Lembro de uma dessas primeiras, em que sempre algum espetáculo de dança era incluído em nossos encontros. Resolvi buscar respostas em nostalgias e voltei a assistir danças. Observava as alegorias do balé: branco, rosa, sapatilhas, coques, figurinos, pernas. As sapatilhas me encantaram. Os delicados objetos cor-de-rosa criados para transmitir beleza através da dor daquele que as calçava.
Na fissura da pesquisa de objetos iconográficos e, pensando sempre em dor, adentrei o universo imagético das roupas fetichistas e sado masoquistas. Nesta busca, o que me encantou foram as coleiras. Domínio, adestramento, passividade.
Permitir, decidir que minha dor viesse das atitudes do observador. Coleiras, sapatilhas, dor, passividade, performance.
Com minha roupa preta habitual, calço sapatilhas, coloco uma coleira em mim mesmo e sento, confortavelmente, no chão. Caso quisessem, poderiam pegar a guia da coleira e me levar, no ritmo, intensidade, e rumo que pretendessem que eu seguiria as ordens e as cumpriria. A única regra é que eu deveria seguir este possível percurso na ponta dos pés.
O público topou e tomou posse da coisa. Tive bolhas, ferimentos e sangue nos meus pés ao fim da performance. A culpa foi deles. Admito, porém, que eu permiti e, inclusive, propus.

terça-feira, 29 de junho de 2010

COMO LEVITAR FLORES.

Oportunidade para ser ator em espetáculo mágico infantil. Chance para ser ator, profissão antiga e renegada e, agora, reciclada. Pela experiência do retorno às origens e ao aprendizado de ilusionismo, topei.
Pratiquei as técnicas específicas, respeitei, e ainda respeito, as regras de sigilo absoluto dos truques mágicos. Fui me aprimorando neles. Sobre tais aprimoramentos: eram demasiado técnicos, o truque JAMAIS poderia falhar e, caso falhasse, deveria ter estratégias para me salvar do erro cênico. O engraçado é que, para estes possíveis erros, facilmente pensei em mil estratégias cênicas e diálogos com o público para escapar, poeticamente, de uma falha.
Tendo a mania de não ter muito tato com o que falo, ajo, sou (ou não), recípocro com o que recebo, com sempre pouquíssimas reflexões antes de agir, resultei, sempre, em muitas gafes e, ao mesmo tempo, em preciosas surpresas que só recebi por ter sido impulsivo.
A dificuldade de lidar com algo tão sutil e clássico – avesso a mim, creio - (uma rosa vermelha) X minha dificuldade de manipulação com isto, já que tenho natureza agressiva de manipulação em produções, me ampliei em sensibilidades. Querendo, tentando, praticando e conseguindo ser mais sutil.
Esqueci do mundo. Esqueci de meu mundo habitual. Agora eu era Mágico e ator novamente. Meses focado em levitar flor.
Prática, treino, toneladas de mau-humor (odeio falhar).
Dia de estréia. Faço a coisa. A rosa levita perfeitamente. A pose de Mágico, que assumi, pareceu ser impecável. Nada falha. TÉCNICO: nenhuma naturalidade se apresenta, para mim. Levito uma rosa de papel, taco fogo nela e a faço virar uma linda rosa vermelha real.
Pego esta rosa, jogo para a platéia escura de identidades e me retiro.
Após esta temporada, desisti de atuar... De ser ator. Não quero técnica nem representação. Quero viver e trabalhar com as conseqüências disso.