segunda-feira, 5 de julho de 2010

UM INTERVALO ENTRE NOSSOS INSTANTES.

Mais algumas possibilidades de convivência que me decepcionaram. Querendo evoluções, querendo não me punir mas, ainda, não solto da sensação-necessidade de alguma culpa, seja criada por mim ou por quem fosse.
Um acúmulo de desistências de meus parceiros, por mim, me trouxe luz a conclusões que me disseram que a dor que sinto sempre foi, em parte, causada pela atitude e escolha de outros mas, também, triplicada por dramas que crio para mim mesmo.
Resolvendo performar e permitir, desta vez, que meu sofrimento fosse construído por ações do público, não por mim. Uma dúvida restante: como?
Pensava sobre minhas primeiras relações, as menos treinadas as mais ingênuas, mais não praticadas, menos intelectualizadas, as mais fundamentalmente corporais e confusas no que diz respeito à realmente gostar de alguém ou de, na realidade, gostar de simplesmente ter uma companhia – seja essa qual fosse.
Ironicamente foram as que mais duraram.
Lembro de uma dessas primeiras, em que sempre algum espetáculo de dança era incluído em nossos encontros. Resolvi buscar respostas em nostalgias e voltei a assistir danças. Observava as alegorias do balé: branco, rosa, sapatilhas, coques, figurinos, pernas. As sapatilhas me encantaram. Os delicados objetos cor-de-rosa criados para transmitir beleza através da dor daquele que as calçava.
Na fissura da pesquisa de objetos iconográficos e, pensando sempre em dor, adentrei o universo imagético das roupas fetichistas e sado masoquistas. Nesta busca, o que me encantou foram as coleiras. Domínio, adestramento, passividade.
Permitir, decidir que minha dor viesse das atitudes do observador. Coleiras, sapatilhas, dor, passividade, performance.
Com minha roupa preta habitual, calço sapatilhas, coloco uma coleira em mim mesmo e sento, confortavelmente, no chão. Caso quisessem, poderiam pegar a guia da coleira e me levar, no ritmo, intensidade, e rumo que pretendessem que eu seguiria as ordens e as cumpriria. A única regra é que eu deveria seguir este possível percurso na ponta dos pés.
O público topou e tomou posse da coisa. Tive bolhas, ferimentos e sangue nos meus pés ao fim da performance. A culpa foi deles. Admito, porém, que eu permiti e, inclusive, propus.

Um comentário:

  1. Fe, ainda não havia comentado aqui.
    Tive a chance de ver esta performance de perto e só posso dizer que você é incrível.
    Amigo, te admiro muito.

    Beijo,
    rac

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