Recebi um desafio: ser um livro em uma performance. Ser livro. Fiquei com essa proposta me indagando mais interrogatoriamente do que me afirmando respostas. Uma delícia isto, penso automaticamente mas, naquele momento, com prazo de entrega e montagem, nem tanto. Iniciei pelas obviedades; letras, frases, páginas, marcador, capítulos, título, parágrafos. Nada parecia me comunicar bem com corpo, enquanto matéria final da coisa a ser proposta. Resolvi esquecer o LIVRO como assunto e pensar em OBJETO.
Como ser objeto? O que é objeto? Para mim, algo inanimado, com alguma função ou não mas, sem dúvida, sem possuir organicidade, vida, pulso. Impossível ser isso. Posso tentar plagiar as esculturas vivas da praça da sé e, ainda assim, respiro, pisco, existo como metáfora e imitação. Não sou a coisa. Sou gente. O que seria, então, um ser-humano-objeto? Um boneco talvez. Ou um corpo morto. Este virou carcaça e coisa que é só matéria (me lembro de assuntos como corpos depositados ,como lixo, no nazismo). Pensava em coma, naquela imobilização hospitalar e, mesmo assim, humano, pois o cérebro parou, mas o coração permaneceu.
Por essas linhas tortas, poderia eu tentar ficar imóvel, sem piscar ou me mexer. Inevitável: ainda tenho coração e cérebro e, além disso, os dois ultra ativos. Por si só não seria. Precisava de alguma comparação. Já que não serei, tentarei ser o mais próximo daquilo. Assim foi.
Reflexões finais: animais (como, também, nós) transformados em objetos. Existem? Pensei nos empalhados e nos de pelúcia. O primeiro me trouxe alguma agressividade que ali não pretendia. Pelúcia então e, assim, pensando sobre qual animal seria iconográfico para isso: urso. Eis meu comparativo.
Entre grades de proteção e, ao mesmo tempo, limitações, vitrines e separações animalescas, ali ficamos; eu e Abramo (o urso) por certas horas. Doeram-me demais tantas permanências físicas e cerebrais. Não ganharia do Abramo no quesito permanência estática... Mas creio que ganhei por desistir. Ele ficou lá, lá ainda está e não parece ligar pra isso. E eu pensando nele. Não sei bem se ganhei.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
UM INTERVALO ENTRE NOSSOS INSTANTES.
Mais algumas possibilidades de convivência que me decepcionaram. Querendo evoluções, querendo não me punir mas, ainda, não solto da sensação-necessidade de alguma culpa, seja criada por mim ou por quem fosse.
Um acúmulo de desistências de meus parceiros, por mim, me trouxe luz a conclusões que me disseram que a dor que sinto sempre foi, em parte, causada pela atitude e escolha de outros mas, também, triplicada por dramas que crio para mim mesmo.
Resolvendo performar e permitir, desta vez, que meu sofrimento fosse construído por ações do público, não por mim. Uma dúvida restante: como?
Pensava sobre minhas primeiras relações, as menos treinadas as mais ingênuas, mais não praticadas, menos intelectualizadas, as mais fundamentalmente corporais e confusas no que diz respeito à realmente gostar de alguém ou de, na realidade, gostar de simplesmente ter uma companhia – seja essa qual fosse.
Ironicamente foram as que mais duraram.
Lembro de uma dessas primeiras, em que sempre algum espetáculo de dança era incluído em nossos encontros. Resolvi buscar respostas em nostalgias e voltei a assistir danças. Observava as alegorias do balé: branco, rosa, sapatilhas, coques, figurinos, pernas. As sapatilhas me encantaram. Os delicados objetos cor-de-rosa criados para transmitir beleza através da dor daquele que as calçava.
Na fissura da pesquisa de objetos iconográficos e, pensando sempre em dor, adentrei o universo imagético das roupas fetichistas e sado masoquistas. Nesta busca, o que me encantou foram as coleiras. Domínio, adestramento, passividade.
Permitir, decidir que minha dor viesse das atitudes do observador. Coleiras, sapatilhas, dor, passividade, performance.
Com minha roupa preta habitual, calço sapatilhas, coloco uma coleira em mim mesmo e sento, confortavelmente, no chão. Caso quisessem, poderiam pegar a guia da coleira e me levar, no ritmo, intensidade, e rumo que pretendessem que eu seguiria as ordens e as cumpriria. A única regra é que eu deveria seguir este possível percurso na ponta dos pés.
O público topou e tomou posse da coisa. Tive bolhas, ferimentos e sangue nos meus pés ao fim da performance. A culpa foi deles. Admito, porém, que eu permiti e, inclusive, propus.
Um acúmulo de desistências de meus parceiros, por mim, me trouxe luz a conclusões que me disseram que a dor que sinto sempre foi, em parte, causada pela atitude e escolha de outros mas, também, triplicada por dramas que crio para mim mesmo.
Resolvendo performar e permitir, desta vez, que meu sofrimento fosse construído por ações do público, não por mim. Uma dúvida restante: como?
Pensava sobre minhas primeiras relações, as menos treinadas as mais ingênuas, mais não praticadas, menos intelectualizadas, as mais fundamentalmente corporais e confusas no que diz respeito à realmente gostar de alguém ou de, na realidade, gostar de simplesmente ter uma companhia – seja essa qual fosse.
Ironicamente foram as que mais duraram.
Lembro de uma dessas primeiras, em que sempre algum espetáculo de dança era incluído em nossos encontros. Resolvi buscar respostas em nostalgias e voltei a assistir danças. Observava as alegorias do balé: branco, rosa, sapatilhas, coques, figurinos, pernas. As sapatilhas me encantaram. Os delicados objetos cor-de-rosa criados para transmitir beleza através da dor daquele que as calçava.
Na fissura da pesquisa de objetos iconográficos e, pensando sempre em dor, adentrei o universo imagético das roupas fetichistas e sado masoquistas. Nesta busca, o que me encantou foram as coleiras. Domínio, adestramento, passividade.
Permitir, decidir que minha dor viesse das atitudes do observador. Coleiras, sapatilhas, dor, passividade, performance.
Com minha roupa preta habitual, calço sapatilhas, coloco uma coleira em mim mesmo e sento, confortavelmente, no chão. Caso quisessem, poderiam pegar a guia da coleira e me levar, no ritmo, intensidade, e rumo que pretendessem que eu seguiria as ordens e as cumpriria. A única regra é que eu deveria seguir este possível percurso na ponta dos pés.
O público topou e tomou posse da coisa. Tive bolhas, ferimentos e sangue nos meus pés ao fim da performance. A culpa foi deles. Admito, porém, que eu permiti e, inclusive, propus.
terça-feira, 29 de junho de 2010
COMO LEVITAR FLORES.
Oportunidade para ser ator em espetáculo mágico infantil. Chance para ser ator, profissão antiga e renegada e, agora, reciclada. Pela experiência do retorno às origens e ao aprendizado de ilusionismo, topei.
Pratiquei as técnicas específicas, respeitei, e ainda respeito, as regras de sigilo absoluto dos truques mágicos. Fui me aprimorando neles. Sobre tais aprimoramentos: eram demasiado técnicos, o truque JAMAIS poderia falhar e, caso falhasse, deveria ter estratégias para me salvar do erro cênico. O engraçado é que, para estes possíveis erros, facilmente pensei em mil estratégias cênicas e diálogos com o público para escapar, poeticamente, de uma falha.
Tendo a mania de não ter muito tato com o que falo, ajo, sou (ou não), recípocro com o que recebo, com sempre pouquíssimas reflexões antes de agir, resultei, sempre, em muitas gafes e, ao mesmo tempo, em preciosas surpresas que só recebi por ter sido impulsivo.
A dificuldade de lidar com algo tão sutil e clássico – avesso a mim, creio - (uma rosa vermelha) X minha dificuldade de manipulação com isto, já que tenho natureza agressiva de manipulação em produções, me ampliei em sensibilidades. Querendo, tentando, praticando e conseguindo ser mais sutil.
Esqueci do mundo. Esqueci de meu mundo habitual. Agora eu era Mágico e ator novamente. Meses focado em levitar flor.
Prática, treino, toneladas de mau-humor (odeio falhar).
Dia de estréia. Faço a coisa. A rosa levita perfeitamente. A pose de Mágico, que assumi, pareceu ser impecável. Nada falha. TÉCNICO: nenhuma naturalidade se apresenta, para mim. Levito uma rosa de papel, taco fogo nela e a faço virar uma linda rosa vermelha real.
Pego esta rosa, jogo para a platéia escura de identidades e me retiro.
Após esta temporada, desisti de atuar... De ser ator. Não quero técnica nem representação. Quero viver e trabalhar com as conseqüências disso.
Pratiquei as técnicas específicas, respeitei, e ainda respeito, as regras de sigilo absoluto dos truques mágicos. Fui me aprimorando neles. Sobre tais aprimoramentos: eram demasiado técnicos, o truque JAMAIS poderia falhar e, caso falhasse, deveria ter estratégias para me salvar do erro cênico. O engraçado é que, para estes possíveis erros, facilmente pensei em mil estratégias cênicas e diálogos com o público para escapar, poeticamente, de uma falha.
Tendo a mania de não ter muito tato com o que falo, ajo, sou (ou não), recípocro com o que recebo, com sempre pouquíssimas reflexões antes de agir, resultei, sempre, em muitas gafes e, ao mesmo tempo, em preciosas surpresas que só recebi por ter sido impulsivo.
A dificuldade de lidar com algo tão sutil e clássico – avesso a mim, creio - (uma rosa vermelha) X minha dificuldade de manipulação com isto, já que tenho natureza agressiva de manipulação em produções, me ampliei em sensibilidades. Querendo, tentando, praticando e conseguindo ser mais sutil.
Esqueci do mundo. Esqueci de meu mundo habitual. Agora eu era Mágico e ator novamente. Meses focado em levitar flor.
Prática, treino, toneladas de mau-humor (odeio falhar).
Dia de estréia. Faço a coisa. A rosa levita perfeitamente. A pose de Mágico, que assumi, pareceu ser impecável. Nada falha. TÉCNICO: nenhuma naturalidade se apresenta, para mim. Levito uma rosa de papel, taco fogo nela e a faço virar uma linda rosa vermelha real.
Pego esta rosa, jogo para a platéia escura de identidades e me retiro.
Após esta temporada, desisti de atuar... De ser ator. Não quero técnica nem representação. Quero viver e trabalhar com as conseqüências disso.
domingo, 13 de junho de 2010
NEGANDO O JARDIM DE ARTAUD.
Metade de 2009. Sem emprego, sem companheiro, sem perspectivas, sem aulas, cursos ou novos ensinamentos, sem criatividade para produzir. Após longo período de silêncio uma proposta se apresenta: fugir, ser nômade e trabalhar como palhaço em um circo russo. Fui.
Antes da fuga, alertei sobre meu sumiço para poucos personagens, sendo eles o suposto irmão, mãe e uns cinco amigos próximos. E desapareci com minha nova mini-máscara – uma bola vermelha que vestia meu nariz e minha nova persona: ser patético em troca de risadas alheias e salário.
Este mal dava conta de básicos, de me alimentar, ter o que beber que não fosse água e um lazer quase nulo (trabalhava das 09h00min às 23h30min diariamente). O cansaço e a falta de contato físico com o mundo me desvirtuada, entristecia, me dirigia a um status de quase doido. A fuga, pensada para um fim ou rumo mais interessante para minha vida, me trouxe respostas opostas.
Após um semestre no refúgio da palhaçada triste, retornei para casa e consegui um novo emprego. Trabalhei como assistente de uma senhora relevante. Marina Abramovic. Com ela conversei, meditei e me envolvi em um delicioso mês. Do circo à meditação performática.
Tantas mudanças de estado em tempo relâmpago. Equilibrado em um monociclo sobre uma corda, pendendo cair para um lado louco e com falta de adaptação, ou para outro lado, difícil de acolher, mas desejado, de nova cabeça, novo profissional, novas produções. Nesta época tive uma certa fissura por flores artificiais. Comprei várias e, do palhaço, me restaram muitas indagações sobre máscaras.
Fiz uma máscara de flores de plástico. Encontrei uma camisa de força em meu baú de vestimentas inusitadas. Recolhi-me e me deitei em um parque de três diferentes formas:
1ª: De preto, consciente, como performer uniformizado de tempos passados.
2ª: Experimentando a camisa de força, lidando com o estranho conforto X abraço de seus apertados e limitantes nós.
3ª: Com minha nova e falsa máscara de flores, minha personalidade floral de plástico em um jardim de flores reais.
Lembrei-me, então, de outro senhor que considero relevante. Artaud.
Antes da fuga, alertei sobre meu sumiço para poucos personagens, sendo eles o suposto irmão, mãe e uns cinco amigos próximos. E desapareci com minha nova mini-máscara – uma bola vermelha que vestia meu nariz e minha nova persona: ser patético em troca de risadas alheias e salário.
Este mal dava conta de básicos, de me alimentar, ter o que beber que não fosse água e um lazer quase nulo (trabalhava das 09h00min às 23h30min diariamente). O cansaço e a falta de contato físico com o mundo me desvirtuada, entristecia, me dirigia a um status de quase doido. A fuga, pensada para um fim ou rumo mais interessante para minha vida, me trouxe respostas opostas.
Após um semestre no refúgio da palhaçada triste, retornei para casa e consegui um novo emprego. Trabalhei como assistente de uma senhora relevante. Marina Abramovic. Com ela conversei, meditei e me envolvi em um delicioso mês. Do circo à meditação performática.
Tantas mudanças de estado em tempo relâmpago. Equilibrado em um monociclo sobre uma corda, pendendo cair para um lado louco e com falta de adaptação, ou para outro lado, difícil de acolher, mas desejado, de nova cabeça, novo profissional, novas produções. Nesta época tive uma certa fissura por flores artificiais. Comprei várias e, do palhaço, me restaram muitas indagações sobre máscaras.
Fiz uma máscara de flores de plástico. Encontrei uma camisa de força em meu baú de vestimentas inusitadas. Recolhi-me e me deitei em um parque de três diferentes formas:
1ª: De preto, consciente, como performer uniformizado de tempos passados.
2ª: Experimentando a camisa de força, lidando com o estranho conforto X abraço de seus apertados e limitantes nós.
3ª: Com minha nova e falsa máscara de flores, minha personalidade floral de plástico em um jardim de flores reais.
Lembrei-me, então, de outro senhor que considero relevante. Artaud.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS.
Complicações quando pensamos em faturamentos como artista em início de carreira, ou qualquer início de profissão quando seus pais não pertencem à mesma área, não são ricos ou donos da tal empresa multinacional. Nestas brincadeiras, que incluem necessidades financeiras, contatos profissionais e inserção no mercado e circuito artístico, comecei a atuar como educador (monitor, guia, como quiseres) em museus e galerias de arte. Já seguia esta rota por três anos. Um professor atuante fora do habitat-sala-de-aula.
Conteúdos abordados que me encantavam tanto quanto muitos alunos detestavam ouvir. Quando estes não agiam como pestes do comportamento tradicional da idade, ficavam em silêncio com a cabeça orientada para um dos múltiplos universos deles. Esta falta de atenção, em contrapartida a tantas outras na vida, nunca me afetou. Ou assim acredito.
Geórgia Kyriakakis , artista – e professora minha na época. Mulher esta que trouxe à tona entendimentos para produzir arte contemporânea para mim e meus colegas. Críticas duras, severas e deliciosas. Lágrimas de alguns, sorrisos de outros e de mim. Eu tinha uma semana para apresentar uma instalação inédita.
Mais perambulações e noitadas no apartamento de Arthur. Fiz de tudo (mesmo) naquele território menos pensar no trabalho que deveria produzir – me irritava refletir tanto sobre algo que não encontrava respostas.
Arte, né?
Costumo pensar em meus projetos de forma tradicional e retardada: falo sozinho ou com coisas que não respondem ou opinam, só escutam. Assim estava, pensando e papeando com um urso de pelúcia, na minha casa, sobre o que me interessa quando produzo e como não fazia idéia do que produzir no momento.
URSOS DE PELÚCIA.
Passei toda minha infância com um maior que eu, na última produção da cena 11 tinha um parecidíssimo, o panda era meu predileto animal no zoológico e, agora, conversava sobre arte com um.
O dia de apresentação da instalação virava a esquina... E nada. Pelo decorrer dos dias, minha cabeça focava no outro trabalho, educador, falar de arte para muitos adolescentes e muitas faltas de interesse. Resolvi pedir para todos meus colegas me emprestarem bichos de pelúcia por um dia e assim o fizeram. Enchi uma sala de aula com eles nas carteiras e bolei lecionar algo para eles. Pensei que esta falta de atenção não necessitava de um professor (quem o escuta afinal?). Retirei-me da cena e deixei pistas ali: meu casaco, caderno e uma anotação de um colega que nunca conheci ao vivo – BECKETT – na lousa: Resgatar o silêncio é a função dos objetos.
Caí fora e deixei a aula nas mãos dele.
www.georgiakyriakakis.com.br/
Conteúdos abordados que me encantavam tanto quanto muitos alunos detestavam ouvir. Quando estes não agiam como pestes do comportamento tradicional da idade, ficavam em silêncio com a cabeça orientada para um dos múltiplos universos deles. Esta falta de atenção, em contrapartida a tantas outras na vida, nunca me afetou. Ou assim acredito.
Geórgia Kyriakakis , artista – e professora minha na época. Mulher esta que trouxe à tona entendimentos para produzir arte contemporânea para mim e meus colegas. Críticas duras, severas e deliciosas. Lágrimas de alguns, sorrisos de outros e de mim. Eu tinha uma semana para apresentar uma instalação inédita.
Mais perambulações e noitadas no apartamento de Arthur. Fiz de tudo (mesmo) naquele território menos pensar no trabalho que deveria produzir – me irritava refletir tanto sobre algo que não encontrava respostas.
Arte, né?
Costumo pensar em meus projetos de forma tradicional e retardada: falo sozinho ou com coisas que não respondem ou opinam, só escutam. Assim estava, pensando e papeando com um urso de pelúcia, na minha casa, sobre o que me interessa quando produzo e como não fazia idéia do que produzir no momento.
URSOS DE PELÚCIA.
Passei toda minha infância com um maior que eu, na última produção da cena 11 tinha um parecidíssimo, o panda era meu predileto animal no zoológico e, agora, conversava sobre arte com um.
O dia de apresentação da instalação virava a esquina... E nada. Pelo decorrer dos dias, minha cabeça focava no outro trabalho, educador, falar de arte para muitos adolescentes e muitas faltas de interesse. Resolvi pedir para todos meus colegas me emprestarem bichos de pelúcia por um dia e assim o fizeram. Enchi uma sala de aula com eles nas carteiras e bolei lecionar algo para eles. Pensei que esta falta de atenção não necessitava de um professor (quem o escuta afinal?). Retirei-me da cena e deixei pistas ali: meu casaco, caderno e uma anotação de um colega que nunca conheci ao vivo – BECKETT – na lousa: Resgatar o silêncio é a função dos objetos.
Caí fora e deixei a aula nas mãos dele.
www.georgiakyriakakis.com.br/
terça-feira, 1 de junho de 2010
GEOMETRIA SOBRE CONFORTO.
Desde 2005 já vinha me encantando com o trabalho da CIA. CENA 11 DE DANÇA. Aqueles corpos caindo no chão com tanta precisão e devidas agonias. Observar o trabalho deles me trouxe luz a varios questionamentos naturais entre fronteiras de linguagens: cena 11 é dança. Aquelas quedas, para mim, necessariamente deveriam ter técnicas para serem realizadas vários dias consecutivos. Caso fossem performances, ao menos minhas, não. Atrás de pesquisas: Tinha técnica...e muita. Vi espetáculos, – os mesmos em várias oportunidades - me infurnei nas pesquisas de Christine Greiner e de Maíra Spanghero, me machuquei muito sem aulas pra entender toda aquela informação no meu corpo (e entendi da minha forma). Fiz algumas aulas e workshops com eles e, recentemente, uma audição para participação no elenco. Vale lembrar que a audição foi neste 2010 e os “persigo” por cinco anos. Andava torto em novas pesquisas. Queria manter certas poéticas sem haver novos propósitos. Pensava eu: “Como me machucar poéticamente desta vez? Qual ação a exercer? Que parte deste corpo levo à quase destruição na próxima etapa?”. Sem querer, estava boicotando e banalizando meu próprio trabalho. A coisa toda nunca rodou ao redor de somente “doer e ser bonito”; sempre tive motivações pessoais. E me sentia vazio delas no momento. A vidinha andava perfeita, talvez? Fiz uma performance com Joanar na faculdade. Prepotente, inclusive, chamar aquele exercício de performance. Cada um em lados extremamente opostos do prédio com fitas crepes nos bolsos. Combinamos um local central para nos encontrarmos. Andamos lentamente demarcando nosso passeio com as fitas no chão. Duas grandes linhas foram formadas e assim foi, até nos encontrarmos. Lá criamos um quadrado e, ali, dormimos. Meio patético, creio. Mas a geometria do movimento todo me interessou demais. Demais. Fiquei em fissura por fita crepe por um bom tempo, mesmo sem saber o que fazer direito com aquilo. Demarcava territórios (sem saber o que fazer neles), enrolava meu corpo com fitas (sabe Deus pra que), enchi meu quarto de desenhos de fita crepe (que sumiam em minhas paredes brancas).Mais uma aula assistida do Cena 11. Finalmente explicações e ensinamentos didáticos sobre quedas e, assim, entendimento da colocação das partes do meu corpo no espaço e no chão durante e após as quedas exercidas. Como sempre, naquele momento, fita crepe em meu (in)consciente. Resolvi, em casa, demarcar com fita as partes que meu corpo tocava o chão, nas quedas, para estuda-las melhor. Caia milhoes de vezes sobre um tabuleiro, me machucando horrívelmente até aprender a coisa.Tinha, para mim, um grande trabalho ali. Demorou para a percepção disso cair nas fichas das minhas compreensões. Mas caiu. Percebi certas geometrias sobre meu conforto não produtivo.
www.cena11.com.br
http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/000292.pdf
www.cena11.com.br
http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/000292.pdf
domingo, 23 de maio de 2010
DIÁLOGO ALCOÓLICO.
Cansado de realizar ações sozinho. Cansado de evitar parcerias – tenho a experiência de ser excluído da maioria que estabeleço.
Conversei com Arthur – o suposto irmão – e com Bia – a suposta prima Bittencourt. Convertemo-nos em pseudo-artistas-super-heróis: unimos forças. Assim decidimos uma produção coletiva. Como unificar três cabeças, que tão bem se enquadravam, com três produções que seguiam em rotas opostas? A solução comum foi o vídeo.
Bia poética, Arthur Noir, eu corporal e na obsessão de estar presente nos trabalhos expostos.
Preto e Branco. Época de morangos mofados de Caio Fernando de Abreu. Eu e Arthur em cena. Bia por trás da lente.
Eu e irmão resolvemos tomar uma garrafa inteira de vodca em menos de uma hora enquanto a sóbria Bia registrava a coisa. Todas estas metas foram cumpridas enquanto minha realidade ficava tão descolorida quanto o efeito da filmagem. Eu e irmão deveríamos conversar, ato banal e tradicional, principalmente regado pelo etílico, mas não conseguimos (ou eu não consegui). Ato comum que, quando vira projeto, me engesso. Não via naturalidade alguma naquilo... E gostava disso. Já que resolvemos que o produto final não deveria ter som (escolha aleatória e, com sucesso, de grande efeito), resolvi, enquanto olhava pro irmão, conversar com Bia – que não tinha muito papo. Não tinha muito papo... Você também não teria, sóbrio e filmando dois bêbados em PB.
Passa uma hora, a coisa “acaba”. Disto para frente pouquíssimo recordo. Arthur recebeu visita e papeou horas sabe cosmos como. Eu dormi em cama e em quarto que não me pertenciam e, neles, vomitei. Nada disso registrado, ao menos em imagens. Saímos, fomos para o lançamento de um livro medíocre na livraria cultura e lá resolvi ficar me tacando no chão, até não aguentar mais, roubando a cena da coisa toda.
Chega a dona do quarto, com meus antigos dejetos estomacais, outro dia e me pergunta o porquê do cheiro de chocolate no quarto dela. Eu me pergunto que chocolate ela comia(!). Menti, culpei Bia – já que a dona do quarto jamais a via, ao contrário de mim. Bia já me desculpou (creio eu). A dona do quarto mudou de cidade. O vídeo ficou bom. (Ao contrário de outra brincadeira que nós três fizemos com um sofá tempinhos depois).
OBS: Pra (tentar) amenizar a situação pós-vodca, imediatamente após as filmagens, Bia nos comprou picolés de chocolate. Estavam ótimos.
ABREU, Caio Fernando, Morangos Mofados, Brasiliense S.A., São Paulo, 1987.
Conversei com Arthur – o suposto irmão – e com Bia – a suposta prima Bittencourt. Convertemo-nos em pseudo-artistas-super-heróis: unimos forças. Assim decidimos uma produção coletiva. Como unificar três cabeças, que tão bem se enquadravam, com três produções que seguiam em rotas opostas? A solução comum foi o vídeo.
Bia poética, Arthur Noir, eu corporal e na obsessão de estar presente nos trabalhos expostos.
Preto e Branco. Época de morangos mofados de Caio Fernando de Abreu. Eu e Arthur em cena. Bia por trás da lente.
Eu e irmão resolvemos tomar uma garrafa inteira de vodca em menos de uma hora enquanto a sóbria Bia registrava a coisa. Todas estas metas foram cumpridas enquanto minha realidade ficava tão descolorida quanto o efeito da filmagem. Eu e irmão deveríamos conversar, ato banal e tradicional, principalmente regado pelo etílico, mas não conseguimos (ou eu não consegui). Ato comum que, quando vira projeto, me engesso. Não via naturalidade alguma naquilo... E gostava disso. Já que resolvemos que o produto final não deveria ter som (escolha aleatória e, com sucesso, de grande efeito), resolvi, enquanto olhava pro irmão, conversar com Bia – que não tinha muito papo. Não tinha muito papo... Você também não teria, sóbrio e filmando dois bêbados em PB.
Passa uma hora, a coisa “acaba”. Disto para frente pouquíssimo recordo. Arthur recebeu visita e papeou horas sabe cosmos como. Eu dormi em cama e em quarto que não me pertenciam e, neles, vomitei. Nada disso registrado, ao menos em imagens. Saímos, fomos para o lançamento de um livro medíocre na livraria cultura e lá resolvi ficar me tacando no chão, até não aguentar mais, roubando a cena da coisa toda.
Chega a dona do quarto, com meus antigos dejetos estomacais, outro dia e me pergunta o porquê do cheiro de chocolate no quarto dela. Eu me pergunto que chocolate ela comia(!). Menti, culpei Bia – já que a dona do quarto jamais a via, ao contrário de mim. Bia já me desculpou (creio eu). A dona do quarto mudou de cidade. O vídeo ficou bom. (Ao contrário de outra brincadeira que nós três fizemos com um sofá tempinhos depois).
OBS: Pra (tentar) amenizar a situação pós-vodca, imediatamente após as filmagens, Bia nos comprou picolés de chocolate. Estavam ótimos.
ABREU, Caio Fernando, Morangos Mofados, Brasiliense S.A., São Paulo, 1987.
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