domingo, 13 de junho de 2010

NEGANDO O JARDIM DE ARTAUD.

Metade de 2009. Sem emprego, sem companheiro, sem perspectivas, sem aulas, cursos ou novos ensinamentos, sem criatividade para produzir. Após longo período de silêncio uma proposta se apresenta: fugir, ser nômade e trabalhar como palhaço em um circo russo. Fui.
Antes da fuga, alertei sobre meu sumiço para poucos personagens, sendo eles o suposto irmão, mãe e uns cinco amigos próximos. E desapareci com minha nova mini-máscara – uma bola vermelha que vestia meu nariz e minha nova persona: ser patético em troca de risadas alheias e salário.
Este mal dava conta de básicos, de me alimentar, ter o que beber que não fosse água e um lazer quase nulo (trabalhava das 09h00min às 23h30min diariamente). O cansaço e a falta de contato físico com o mundo me desvirtuada, entristecia, me dirigia a um status de quase doido. A fuga, pensada para um fim ou rumo mais interessante para minha vida, me trouxe respostas opostas.
Após um semestre no refúgio da palhaçada triste, retornei para casa e consegui um novo emprego. Trabalhei como assistente de uma senhora relevante. Marina Abramovic. Com ela conversei, meditei e me envolvi em um delicioso mês. Do circo à meditação performática.
Tantas mudanças de estado em tempo relâmpago. Equilibrado em um monociclo sobre uma corda, pendendo cair para um lado louco e com falta de adaptação, ou para outro lado, difícil de acolher, mas desejado, de nova cabeça, novo profissional, novas produções. Nesta época tive uma certa fissura por flores artificiais. Comprei várias e, do palhaço, me restaram muitas indagações sobre máscaras.
Fiz uma máscara de flores de plástico. Encontrei uma camisa de força em meu baú de vestimentas inusitadas. Recolhi-me e me deitei em um parque de três diferentes formas:
1ª: De preto, consciente, como performer uniformizado de tempos passados.
2ª: Experimentando a camisa de força, lidando com o estranho conforto X abraço de seus apertados e limitantes nós.
3ª: Com minha nova e falsa máscara de flores, minha personalidade floral de plástico em um jardim de flores reais.
Lembrei-me, então, de outro senhor que considero relevante. Artaud.

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