quinta-feira, 3 de junho de 2010

LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS.

Complicações quando pensamos em faturamentos como artista em início de carreira, ou qualquer início de profissão quando seus pais não pertencem à mesma área, não são ricos ou donos da tal empresa multinacional. Nestas brincadeiras, que incluem necessidades financeiras, contatos profissionais e inserção no mercado e circuito artístico, comecei a atuar como educador (monitor, guia, como quiseres) em museus e galerias de arte. Já seguia esta rota por três anos. Um professor atuante fora do habitat-sala-de-aula.
Conteúdos abordados que me encantavam tanto quanto muitos alunos detestavam ouvir. Quando estes não agiam como pestes do comportamento tradicional da idade, ficavam em silêncio com a cabeça orientada para um dos múltiplos universos deles. Esta falta de atenção, em contrapartida a tantas outras na vida, nunca me afetou. Ou assim acredito.
Geórgia Kyriakakis , artista – e professora minha na época. Mulher esta que trouxe à tona entendimentos para produzir arte contemporânea para mim e meus colegas. Críticas duras, severas e deliciosas. Lágrimas de alguns, sorrisos de outros e de mim. Eu tinha uma semana para apresentar uma instalação inédita.
Mais perambulações e noitadas no apartamento de Arthur. Fiz de tudo (mesmo) naquele território menos pensar no trabalho que deveria produzir – me irritava refletir tanto sobre algo que não encontrava respostas.
Arte, né?
Costumo pensar em meus projetos de forma tradicional e retardada: falo sozinho ou com coisas que não respondem ou opinam, só escutam. Assim estava, pensando e papeando com um urso de pelúcia, na minha casa, sobre o que me interessa quando produzo e como não fazia idéia do que produzir no momento.
URSOS DE PELÚCIA.
Passei toda minha infância com um maior que eu, na última produção da cena 11 tinha um parecidíssimo, o panda era meu predileto animal no zoológico e, agora, conversava sobre arte com um.
O dia de apresentação da instalação virava a esquina... E nada. Pelo decorrer dos dias, minha cabeça focava no outro trabalho, educador, falar de arte para muitos adolescentes e muitas faltas de interesse.  Resolvi pedir para todos meus colegas me emprestarem bichos de pelúcia por um dia e assim o fizeram. Enchi uma sala de aula com eles nas carteiras e bolei lecionar algo para eles. Pensei que esta falta de atenção não necessitava de um professor (quem o escuta afinal?). Retirei-me da cena e deixei pistas ali: meu casaco, caderno e uma anotação de um colega que nunca conheci ao vivo – BECKETT – na lousa: Resgatar o silêncio é a função dos objetos.
Caí fora e deixei a aula nas mãos dele.
www.georgiakyriakakis.com.br/

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