quarta-feira, 20 de abril de 2011

ARMADILHA PARA PRÍNCIPE.

Pé na bunda parte 6. E esse de qualidade e origem internacional (não é a primeira ocorrência disto). Coisa inventada. De fato nunca iria acontecer mas não controlo o mecanismo na minha cabeça de inventar histórias e transferir as mesmas pro resto do meu corpo. Se entra sai, mas esta segunda parte parece ser mais complicada. Principalmente quando, certamente, sequer entramos. Achava que sim.

Dar OI parece ter sido o primeiro erro. Agora entrei em outras pesquisas, torci um pé, perdi uma unha e ontem fuzilei o pé restante. Pausa. Todos estes ferimentos não foram propositais (?). 
Aceitando os objetos que deles surgem ou que os fazem surgir. Aceitando as histórias imaginárias de minha cabeça. Aceitando esquecer o mundo como ele era até a semana passada e a nova condição de conto de fada que se infiltrou.

Estendo a qualidade estética de meu cabelo. A trança que possuo e que todos dizem estar enorme está, para mim, pequena demais. Sem atração ou alcance suficiente para príncipe algum morder a isca. Como criança que foge dos pais, tranço uns 40 metros de lençol e os jogo pela janela. 

Armadilha em condição de espera.


terça-feira, 22 de março de 2011

SER DEJETO.

Nunca me despi para fazer performances. Nunca considerei necessário.
Atelier de visitação pública e sem visitas. Dois chutes na bunda em tempo recorde, uma armadilha para príncipe que construí... e nada capturou. Buracos quebrados na parede com meu sangue. Rotas marítimas criadas com meu corpo, meu Arquipélago. Maquetes feitas com carinho e que o público destruiu. Percebendo a imobilidade, silêncio e falta de comunicação verbal. Muito trabalho e pouco viver aqui, agora, há algum tempo, não sei até quando, sem controle sobre isso. Habitando em um prédio abandonado e esquecido como eu, penso nesse momento. Uma idéia por dia como desafio a mim mesmo. Porque me desafiar? Pão com manteiga, pão com manteiga, pão com manteiga. Um café morno e fraco. Uma revista interessante que protelo a leitura.  Vagabundices necessárias.
Ser artista. Entender isso.
Abraçar o trabalho solitário. Batendo as mãos, como asas, sem sair do lugar. Fracasso nas intenções de liberdade. Unhas que são roídas ou quebradas por quedas no chão com sapatilhas. Não aceitar que sou bailarino. Preguiça de ser um: gosto de X-bacon com cerveja. Locais inóspitos para pensamentos da mesma natureza.
Resolvi, desta vez, não performar com um público. Tiro, pela primeira vez, a roupa e me vejo puro e desaparecendo nestes não-lugares com este possível não-corpo. Nú enquanto escrevo. Ainda.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LIVRE SIMETRIA


Técnica. A opção atual para ser intenso e fugir da dor. Me acostumando com esta idéia já que não posso fugir do que surgiu naturalmente. Intenções respeitadas. Pesquisas constantes sobre profissionais de diversos corpos. Copiei mímicos, ensaiei balé, renovei minhas joelheiras, criatividades de universo clown, truques de mãos para enganar platéias em espetáculos de mágica.
Todos os dias, no mínimo uma pomba bate na janela do meu atelier. Sempre acreditei serem bichos de pouco raciocínio, mas não esperava que meu espaço de criação fosse um magnético para os tais ratos alados. Vôo torto, descoordenado, mal intencionado. Péssimas performers.
Pensei em correções e, a princípio, estudar movimentos de bater de asas para começar uma possível pesquisa. Dominado o movimento, agora era o momento de corrigir os atos das pombas desorientadas. Ser simétrico, orientado e focado. Já estava completa uma primeira parte do que me desafiei: mais preciso que pombas. Porém, tão banal em meus resultados que logo percebi que qualquer um poderia fazer esta nova ação. Nada peculiar. Nada muito próprio. Nada muito autoral.
Novo desafio: movimentos complexos de se superar. A pesquisa foi pro hip-hop e para o corpo indiano. Bati minhas asas para o público. Não creio que fiz dança, mas me sinto como uma bailarina oposta. Meus braços ficaram estragados por dois dias. Hoje já consigo escrever.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS

Há alguns anos atrás propus uma instalação na qual uma sala de aula era repleta de bichos de pelúcia no lugar dos alunos. Esteticamente encantado, mas até hoje insatisfeito.
Ando mergulhado em pensar arte, fazer arte, compulsões. Atualmente em residência artística e com a dádiva de possuir verba para produção, sinto que joguei meu corpo em um saco e que funciono como uma máquina. Fotos, vídeos, desenhos, textos e performances diárias me dominam. Compulsões.
Em meu atelier convivo com o Abramo, meu grande urso de pelúcia e parceiro de performances. Nos olhos de plástico e, porém, repletos de emoção, sempre percebo nele uma vontade de performar novamente. Nossos espelhos... tal dono, tal bicho.
Nestes últimos dias recebi uma visita deliciosa da curadora Ana Paula Cohen para observar e estipular possíveis críticas ao meu trabalho. Senti uma grande objetividade sensível. Mudanças ocorreram em minha produção e poucos são os que notam. Nos primeiros minutos desta visita, Ana notou. Não me machuco mais em performances apesar de todos acreditarem no contrário. Feliz pelo conceito alcançado. Pensando em questões de voodoo: aflijo em mim e você sente.
Repensei a existência e ansiedade do Abramo. Aquele sim exerce o perfeito efeito voodoo: ele nunca se machuca (creio). Nos caminhos de meu percurso criativo senti nisto a resposta para, mais uma vez, performar com meu parceiro. Texto os movimentos do Abramo e os copio, buscando técnicas para sair ileso como ele.
Consegui. Conseguimos. Nos retiramos do salão e fomos descansar. Desta vez foi ele quem me abraçou pela noite.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PERFORMANCE DIÁRIA

Sempre produzo tendo a situação financeira contemporânea como fator inicial. Uma pena. Um ganho. A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO de propulsar a pensar, pesquisar, testar, construir... demais. A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO  de ter que transformar, ignorar, compatctar os devaneios fantásticos e não formais que gero.
Cadernos e mais cadernos de idéias e projetos. Hoje revisitei todos e, apesar ter considerado alguns registros bons e possíveis de serem elaborados havia, neste ganho, uma decepção despercebida até então: A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO de possuir projetos de fácil realização e, logo, novos trabalhos por vir. A AMBIGUIDADE SE DÁ DEVIDO AO FATO de serem projetos de fácil realização e, portanto, fracos, mal elaborados e pouco imaginativos.
Resolvi me propor uma performance – já que estou de férias e preciso de lição de casa – que deve seguir a seguinte apresentação:
Todos os dias o performer deverá criar uma idéia – projeto de uma performance. A princípio, realizar esta performance no período de um ano. 
Somente o fato de eu ter me lançado algo de tamanha liberdade já me trouxe lúz. Borbulhei um tanto que automático.  
Idéia 1: PERFORMANCE DIÁRIA - Performance diária é um projeto atual no qual pretendo, no período de um ano, conceber uma idéia de performance por dia. Esta coleta, posteriormente, tomará outros cursos. 08/12/10.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

PONTO DE FUGA.

Perfil temporariamente pictórico.  Andava gostando de ver pinturas. Não necessariamente de pensar sobre as imagens que elas me apresentavam, mas sim, de ver pintura em exposição. Ainda não entendendo bem o motivo.
Agora já entendo e, inclusive, carrego uma nova descoberta na maleta: só gostava de ver as grandes.
Semana passada acompanhei a desmontagem de uma exposição. Lindo ver a potencia de um espaço ser esvaziado até ser somente espaço. A bienal já tinha me dado esta lição. A quantidade de materiais, de todo tipo, empihados juntos com seus respectivos pares –objetos fazendo panelinhas – era encantadora. Madeira, metal, ferro, aço, mármore, vidro, bla bla bla e TAPETES ISOLANTES DE SOM perfeitamente conservados, retangulares e enormes. Pedi para levar, me deram, levei dois.
Penduro na parede e observo. Não produzo nada novo mas entendo que o formato me hipnotiza. Gostando de pinturas... IMPULSOS NATURAIS DE PERFORMER: me joguei na parede, agora forrada, de todas as formas. Brinquei de me balancar em frente à parede forrada, como um autista clichê, batendo de leve minha cabeça. Fazia isso enquanto pensava.
Noto que a estrutura isolante estava quase que exatamente ao meio da parede.  Me afastei e cortei um círculo ao meio da estrutura para ver este ponto central. Enquanto desenho, para mim, tudo naquela situação se encaixou. Se não fico imóvel naquele ponto não o sentiria. Logo, sequer o perceberia. Ao menos não tão cedo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

PARA O CONTEÚDO DE COISAS IMÓVEIS.

Recebi um desafio: ser um livro em uma performance. Ser livro. Fiquei com essa proposta me indagando mais interrogatoriamente do que me afirmando respostas. Uma delícia isto, penso automaticamente mas, naquele momento, com prazo de entrega e montagem, nem tanto. Iniciei pelas obviedades; letras, frases, páginas, marcador, capítulos, título, parágrafos. Nada parecia me comunicar bem com corpo, enquanto matéria final da coisa a ser proposta. Resolvi esquecer o LIVRO como assunto e pensar em OBJETO.
Como ser objeto? O que é objeto?  Para mim, algo inanimado, com alguma função ou não mas, sem dúvida, sem possuir organicidade, vida, pulso. Impossível ser isso. Posso tentar plagiar as esculturas vivas da praça da sé e, ainda assim, respiro, pisco, existo como metáfora e imitação. Não sou a coisa. Sou gente. O que seria, então, um ser-humano-objeto? Um boneco talvez. Ou um corpo morto. Este virou carcaça e coisa que é só matéria (me lembro de assuntos como corpos depositados ,como lixo, no nazismo). Pensava em coma, naquela imobilização hospitalar e, mesmo assim, humano, pois o cérebro parou, mas o coração permaneceu.
Por essas linhas tortas, poderia eu tentar ficar imóvel, sem piscar ou me mexer. Inevitável: ainda tenho coração e cérebro e, além disso, os dois ultra ativos. Por si só não seria. Precisava de alguma comparação. Já que não serei, tentarei ser o mais próximo daquilo. Assim foi.
Reflexões finais: animais (como, também, nós) transformados em objetos. Existem? Pensei nos empalhados e nos de pelúcia. O primeiro me trouxe alguma agressividade que ali não pretendia. Pelúcia então e, assim, pensando sobre qual animal seria iconográfico para isso: urso. Eis meu comparativo.
Entre grades de proteção e, ao mesmo tempo, limitações, vitrines e separações animalescas, ali ficamos; eu e Abramo (o urso) por certas horas. Doeram-me demais tantas permanências físicas e cerebrais. Não ganharia do Abramo no quesito permanência estática... Mas creio que ganhei por desistir. Ele ficou lá, lá ainda está e não parece ligar pra isso. E eu pensando nele. Não sei bem se ganhei.