terça-feira, 29 de junho de 2010

COMO LEVITAR FLORES.

Oportunidade para ser ator em espetáculo mágico infantil. Chance para ser ator, profissão antiga e renegada e, agora, reciclada. Pela experiência do retorno às origens e ao aprendizado de ilusionismo, topei.
Pratiquei as técnicas específicas, respeitei, e ainda respeito, as regras de sigilo absoluto dos truques mágicos. Fui me aprimorando neles. Sobre tais aprimoramentos: eram demasiado técnicos, o truque JAMAIS poderia falhar e, caso falhasse, deveria ter estratégias para me salvar do erro cênico. O engraçado é que, para estes possíveis erros, facilmente pensei em mil estratégias cênicas e diálogos com o público para escapar, poeticamente, de uma falha.
Tendo a mania de não ter muito tato com o que falo, ajo, sou (ou não), recípocro com o que recebo, com sempre pouquíssimas reflexões antes de agir, resultei, sempre, em muitas gafes e, ao mesmo tempo, em preciosas surpresas que só recebi por ter sido impulsivo.
A dificuldade de lidar com algo tão sutil e clássico – avesso a mim, creio - (uma rosa vermelha) X minha dificuldade de manipulação com isto, já que tenho natureza agressiva de manipulação em produções, me ampliei em sensibilidades. Querendo, tentando, praticando e conseguindo ser mais sutil.
Esqueci do mundo. Esqueci de meu mundo habitual. Agora eu era Mágico e ator novamente. Meses focado em levitar flor.
Prática, treino, toneladas de mau-humor (odeio falhar).
Dia de estréia. Faço a coisa. A rosa levita perfeitamente. A pose de Mágico, que assumi, pareceu ser impecável. Nada falha. TÉCNICO: nenhuma naturalidade se apresenta, para mim. Levito uma rosa de papel, taco fogo nela e a faço virar uma linda rosa vermelha real.
Pego esta rosa, jogo para a platéia escura de identidades e me retiro.
Após esta temporada, desisti de atuar... De ser ator. Não quero técnica nem representação. Quero viver e trabalhar com as conseqüências disso.

domingo, 13 de junho de 2010

NEGANDO O JARDIM DE ARTAUD.

Metade de 2009. Sem emprego, sem companheiro, sem perspectivas, sem aulas, cursos ou novos ensinamentos, sem criatividade para produzir. Após longo período de silêncio uma proposta se apresenta: fugir, ser nômade e trabalhar como palhaço em um circo russo. Fui.
Antes da fuga, alertei sobre meu sumiço para poucos personagens, sendo eles o suposto irmão, mãe e uns cinco amigos próximos. E desapareci com minha nova mini-máscara – uma bola vermelha que vestia meu nariz e minha nova persona: ser patético em troca de risadas alheias e salário.
Este mal dava conta de básicos, de me alimentar, ter o que beber que não fosse água e um lazer quase nulo (trabalhava das 09h00min às 23h30min diariamente). O cansaço e a falta de contato físico com o mundo me desvirtuada, entristecia, me dirigia a um status de quase doido. A fuga, pensada para um fim ou rumo mais interessante para minha vida, me trouxe respostas opostas.
Após um semestre no refúgio da palhaçada triste, retornei para casa e consegui um novo emprego. Trabalhei como assistente de uma senhora relevante. Marina Abramovic. Com ela conversei, meditei e me envolvi em um delicioso mês. Do circo à meditação performática.
Tantas mudanças de estado em tempo relâmpago. Equilibrado em um monociclo sobre uma corda, pendendo cair para um lado louco e com falta de adaptação, ou para outro lado, difícil de acolher, mas desejado, de nova cabeça, novo profissional, novas produções. Nesta época tive uma certa fissura por flores artificiais. Comprei várias e, do palhaço, me restaram muitas indagações sobre máscaras.
Fiz uma máscara de flores de plástico. Encontrei uma camisa de força em meu baú de vestimentas inusitadas. Recolhi-me e me deitei em um parque de três diferentes formas:
1ª: De preto, consciente, como performer uniformizado de tempos passados.
2ª: Experimentando a camisa de força, lidando com o estranho conforto X abraço de seus apertados e limitantes nós.
3ª: Com minha nova e falsa máscara de flores, minha personalidade floral de plástico em um jardim de flores reais.
Lembrei-me, então, de outro senhor que considero relevante. Artaud.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS.

Complicações quando pensamos em faturamentos como artista em início de carreira, ou qualquer início de profissão quando seus pais não pertencem à mesma área, não são ricos ou donos da tal empresa multinacional. Nestas brincadeiras, que incluem necessidades financeiras, contatos profissionais e inserção no mercado e circuito artístico, comecei a atuar como educador (monitor, guia, como quiseres) em museus e galerias de arte. Já seguia esta rota por três anos. Um professor atuante fora do habitat-sala-de-aula.
Conteúdos abordados que me encantavam tanto quanto muitos alunos detestavam ouvir. Quando estes não agiam como pestes do comportamento tradicional da idade, ficavam em silêncio com a cabeça orientada para um dos múltiplos universos deles. Esta falta de atenção, em contrapartida a tantas outras na vida, nunca me afetou. Ou assim acredito.
Geórgia Kyriakakis , artista – e professora minha na época. Mulher esta que trouxe à tona entendimentos para produzir arte contemporânea para mim e meus colegas. Críticas duras, severas e deliciosas. Lágrimas de alguns, sorrisos de outros e de mim. Eu tinha uma semana para apresentar uma instalação inédita.
Mais perambulações e noitadas no apartamento de Arthur. Fiz de tudo (mesmo) naquele território menos pensar no trabalho que deveria produzir – me irritava refletir tanto sobre algo que não encontrava respostas.
Arte, né?
Costumo pensar em meus projetos de forma tradicional e retardada: falo sozinho ou com coisas que não respondem ou opinam, só escutam. Assim estava, pensando e papeando com um urso de pelúcia, na minha casa, sobre o que me interessa quando produzo e como não fazia idéia do que produzir no momento.
URSOS DE PELÚCIA.
Passei toda minha infância com um maior que eu, na última produção da cena 11 tinha um parecidíssimo, o panda era meu predileto animal no zoológico e, agora, conversava sobre arte com um.
O dia de apresentação da instalação virava a esquina... E nada. Pelo decorrer dos dias, minha cabeça focava no outro trabalho, educador, falar de arte para muitos adolescentes e muitas faltas de interesse.  Resolvi pedir para todos meus colegas me emprestarem bichos de pelúcia por um dia e assim o fizeram. Enchi uma sala de aula com eles nas carteiras e bolei lecionar algo para eles. Pensei que esta falta de atenção não necessitava de um professor (quem o escuta afinal?). Retirei-me da cena e deixei pistas ali: meu casaco, caderno e uma anotação de um colega que nunca conheci ao vivo – BECKETT – na lousa: Resgatar o silêncio é a função dos objetos.
Caí fora e deixei a aula nas mãos dele.
www.georgiakyriakakis.com.br/

terça-feira, 1 de junho de 2010

GEOMETRIA SOBRE CONFORTO.

Desde 2005 já vinha me encantando com o trabalho da CIA. CENA 11 DE DANÇA. Aqueles corpos caindo no chão com tanta precisão e devidas agonias. Observar o trabalho deles me trouxe luz a varios questionamentos naturais entre fronteiras de linguagens: cena 11 é dança. Aquelas quedas, para mim, necessariamente deveriam ter técnicas para serem realizadas vários dias consecutivos. Caso fossem performances, ao menos minhas, não. Atrás de pesquisas:  Tinha técnica...e muita. Vi espetáculos, – os mesmos em várias oportunidades -  me infurnei nas pesquisas de Christine Greiner e de Maíra Spanghero, me machuquei muito sem aulas pra entender toda aquela informação no meu corpo (e entendi da minha forma). Fiz algumas aulas e workshops com eles e, recentemente, uma audição para participação no elenco. Vale lembrar que a audição foi neste 2010 e os “persigo” por cinco anos. Andava torto em novas pesquisas. Queria manter certas poéticas sem haver novos propósitos. Pensava eu: “Como me machucar poéticamente desta vez? Qual ação a exercer? Que parte deste corpo levo à quase destruição na próxima etapa?”. Sem querer, estava boicotando e banalizando meu próprio trabalho. A coisa toda nunca rodou ao redor de somente “doer e ser bonito”; sempre tive motivações pessoais. E me sentia vazio delas no momento. A vidinha andava perfeita, talvez? Fiz uma performance com Joanar na faculdade. Prepotente, inclusive, chamar aquele exercício de performance. Cada um em lados extremamente opostos do prédio com fitas crepes nos bolsos. Combinamos um local central para nos encontrarmos. Andamos lentamente demarcando nosso passeio com as fitas no chão. Duas grandes linhas foram formadas e assim foi, até nos encontrarmos. Lá criamos um quadrado e, ali, dormimos. Meio patético, creio. Mas a geometria do movimento todo me interessou demais. Demais. Fiquei em fissura por fita crepe por um bom tempo, mesmo sem saber o que fazer direito com aquilo. Demarcava territórios (sem saber o que fazer neles), enrolava meu corpo com fitas (sabe Deus pra que), enchi meu quarto de desenhos de fita crepe (que sumiam em minhas paredes brancas).Mais uma aula assistida do Cena 11. Finalmente explicações e ensinamentos didáticos sobre quedas e, assim, entendimento da colocação das partes do meu corpo no espaço e no chão durante e após as quedas exercidas. Como sempre, naquele momento, fita crepe em meu (in)consciente. Resolvi, em casa, demarcar com fita as partes que meu corpo tocava o chão, nas quedas, para estuda-las melhor. Caia milhoes de vezes sobre um tabuleiro, me machucando horrívelmente até aprender a coisa.Tinha, para mim, um grande trabalho ali. Demorou para a percepção disso cair nas fichas das minhas compreensões. Mas caiu. Percebi certas geometrias sobre meu conforto não produtivo.
www.cena11.com.br
http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/000292.pdf