sexta-feira, 30 de abril de 2010

A CARTA ( X- Ponto Determinante)

SEM PINTAS.
Um pouquinho de paciência com o fe. To tranquilo, mas preciso cuspir as vezes.
Aqui tá tudo um tanto desgastado mesmo (parece que tudo ficou seco e sem gosto sem ti). Acho que a única coisa que permanece viva em própria essência é sua calça de moletom (que rasguei pra te fazer alças de mochila) com teu cheiro no sofá. O cheiro das tuas roupas é muito forte ainda.
Depois que peguei em fita com um amigo meu, o Béradêro do Chico César fica no repeat alguns dias aqui me rasgando nuvens e seus trovões. Perdão por mais uma chuva de textos pra ti querido. Dói, ainda dói muito me entender pra ti como do carinho ao parcial esquecimento e desistência. De fato as solas destes sapatos já ficaram muito gastas e cheia de chicletes pisados.
Te perdi.
Te perdi, perdi, perdi, perdi, perdi, ganhei de novo. Escapar de ti acontece como uma estrada em oito: fuga e retorno ao mesmo ponto. Parece que você ainda não aprendeu a deixar de ser tão pura e belamente incrível. Permaneces irresistível até este momento sem uma mudança sequer.
Sim, sinto sua falta como uma joaninha sem pintas.
Meu doce, doce rapaz. Com tua presença ausente as gotas de todas nossas bebidas se secaram e passo por períodos áridos de mim em mim mesmo já há um longo e alfinetante tempo de não-você.
Provavelmente trinta fôlegos puxados antes de cada palavra retificada aqui, te digo uma reflexão minha um tanto patética: você me traz um completamento tão estranho, novo e fresco (aquele que não queria ter perdido de forma alguma...) e eu acredito sinceramente que daqui uns dez anos, quem sabe, eu te encontro com uma nova flor na mão e reato teu conforto.
Se for... ainda tenho meus dez anos pela frente.
Espero sol, praia e sucos até lá.
Você me é um grande tutor.
Contigo aprendo a respirar, aproveitar até a última fumaça de um incenso, olhar pra paredes e me jogar contra elas pela simples grandeza do ato de tentar ultrapassar.
Ensina-me culturas novas e a dar mais valor pra todo abraço e aperto de mão que me chegar pois, apesar de gestos pequenos, são as pequenas maravilhas que me restaram de tua deliciosa pessoa.
Só não me ensinou a ficar assim, quietinho, bem quietinho. Às vezes parece que escrevo demais pra você (somente outro velho costume que ainda não perdi).
Me ensinaste a tirar um pouco de férias de mim mesmo. Então vou.
Te vejo, com muita sorte, daqui uns dez anos (to me divertindo com isso ainda).
Ventos bons pra ti.
Beijo pra ti, grande, lindo e pra mim, enorme, Du.

12/03/2005

terça-feira, 27 de abril de 2010

X - PONTO DETERMINANTE



Tenho certa facilidade em titular coisas paralelo ao abismo de encontrar conteúdo que as recheie. Determinante. Inevitavelmente, agora ou em outra atmosfera, é termo que teria que surgir.
Lembro daquela fase como lembro do gosto do café de alguns minutos atrás - ocorrido, a fase citada, há 5 anos. Para algumas perebas da adolescência não existe antibiótico que alivie – e neste período todos procuramos antibióticos, legais ou não, que possam sanar tudo que inquieta. E assim foi este antigo e delicioso (na sua própria azedisse) redemoinho.
Fatos cuspidos (assim que a nomeada sorte os lançou para mim; rápido, fedido, íntimo, ruim): câncer na mãe, homossexualidade ainda torta de aceitação no filho, desemprego na mãe, desemprego no filho, raiva na mãe, piercings e novos tons de cabelo no filho, discussões domésticas boderline assassinas ou suicidáveis. Quer seja palavra que exista ou não, gosto de dar títulos, para o que sei de mim, ao meu gosto.
Mas tinha meu garoto. Pertencia àquele garoto. Garoto disse estar exausto. Um ano depois, garoto me deixou. Perebas da adolescência. Sensação ilusória de paixão por todos que levianamente se envolviam – independente da mediocridade do tempo – comigo.
Este não. Cinco anos desaguaram, tentaram se reciclar e ainda permanecem, como chiclete ( com sorte não prenderão em minhas solas futuramente). Tinha me apaixonado. Ainda sou apaixonado. Entre tantos outros irrelevantes, este pé na bunda ainda mantém a marca do coturno circense do garoto nestas nádegas que, por epiderme, se extendem aos dedos que aqui escrevem. Amei, perdi.
Uma carta foi escrita após o término daquela junção sendo, esta prática, algo que mesmo sorrindo me trouxe incontáveis lágrimas. Sal molhado que, nos últimos meses de relação procurei socar para dentro de mim como colírio, lágrimas que se injeta e que, ainda assim, insistem em escorrer para fora ressaltando certas coisas. Um interior entupido, de fato, não é capaz de obter mais conteúdo. A física deve explicar melhor. Não sei. Estudei artes.
Na carta que escrevi, uma frase específica me gritou: “Contigo aprendo a respirar, aproveitar até a última fumaça de um incenso, olhar pra paredes e me jogar contra elas pela simples grandeza do ato de tentar ultrapassar”.
Pensava sobre nossa dança juntos, na perda de seu rítmo e no término das nossas músicas. Tentei relacionar com algum movimento impossível, mesmo que tentar fosse algo que já me satisfazesse na época.
Pensava em um X no chão de cimento, a demarcação de um tesouro em um local onde, sem ferramentas, não consigo cavar. Não havia mais ferramentas. Me jogo em uma parede, não a derrubo ou ultrapasso. Caio em um X vermelho no chão, não o quebro, não encontro tesouro. Repito essas ações com esperança até não aguentar mais. Ferido, me retiro.
Alguns aplaudem.
Outros premiam...e me pagam por isso.

domingo, 25 de abril de 2010

RE-FEIÇÕES



Primeiro ano na faculdade de artes visuais. Andava estreitando as primeiras pinceladas de amizades que não mantive corretamente trocando seus antigos termos de amigos para os atuais de colegas. Entre estes havia uma Natália e uma Emília que perduraram comigo por bons anos em todas experiências doidas – ao mesmo tempo altamente clichês – que precisamos obter na universidade.

Recordo-me de estar muito inquieto com relação ao futuro profissional por não me enquadrar em linguagem alguma. Ou não sabia fazer ou não gostava. Hoje tenho um diploma que diz BACHAREL EM ARTES VISUAIS – PINTURA, GRAVURA E ESCULTURA. A piada é que não faço, ou nunca fiz seriamente, nenhuma das três. Minhas experiências em expressão artística eram o teatro, o trabalho do ator, um piano que me dediquei alguns anos, e, também, uns estudos de clown e trabalhos como palhaço.

Natália, que considero uma excelente atriz, na época foi convidada a participar de uma exposição, como performer, em um trabalho elaborado por Alice K – atriz, performer e, ao menos na época, parte da banca de seleção de artes cênicas da Unicamp. Emília foi convidada por Natália pela necessidade de serem duas pessoas e, mais especificamente, mulheres. Fui assistir a primeira performance de minha vida.

Entro na exposição e percebo um cenário em uma sala: um grande balde branco, cheio de pipocas, ao centro de duas cadeiras brancas de frente para a outra. Um cheiro forte de talco permanecia no ambiente. Continuo o passeio pela exposição e encontro Natália e Emília, em pontos diferentes da galeria, vestidas de branco, maquiadas como bonecas (aquela boquinha vermelha em um rosto pálido) caminhando pelo espaço da forma mais lenta possível. O cheiro de talco vinha do corpo delas. Ambas se encaminharam para a sala das pipocas (eu chamo assim), cada uma senta em uma das cadeiras. Estáticas se observam fixamente, um diálogo é travado, uma energia surge naquela imobilidade. Então, começam umas ações.

Comem, lentamente, as pipocas do balde. Esta lentidão vai desaparecendo conforme o ato de ingerir pipocas se transforma em cuspi-las no rosto da outra. Violência, fim das pipocas. O ritmo lento retorna, elas se retiram. A sala permanece até o término da exposição da forma que fica após a performance.

Eu andava pesquisando sobre bonecos e sobre butoh no período e alguns seis meses depois tive de propor um projeto para a lição pictórica de um professor. Não me lembrava exatamente o porquê mas, alguns elementos que agora são tão recorrentes em tudo que faço, surgiam naturalmente: repetição de uma mesma ação, longos períodos de permanência, preocupação estética além da ação. Brinquei com ilusão de sangue, por acaso usei groselha pura, bebi 3 litros e manchei uma sala de jantar, para um, totalmente branca (cadeira, mesa, talheres, vestimenta, etc.).

Deixei aquela melecosidade lá por um bom tempo depois.

Insetos diversos adoraram a idéia.

O professor jogou uma nota dez.

MOTIVAÇÕES PERFORMÁTICAS.

Juliana Moraes uma vez me perguntou se minha produção em performance tem base conceitual ou biográfica. Sempre pensei, e ainda penso, na impossibilidade de separar tais fatores. Creio, porém, que em minha produção todos os motivos pessoais que geram um trabalho são, por minha opção, ocultados, gerando projetos que definem as performances somente pelo caráter conceitual. Abro aqui as páginas escondidas e os motivos que antes anulei.